Lula mostra os estragos da Lava Jato no Comperj: obra parada e empregos perdidos

CARAVANA 2017
Ex-presidente encontrou trabalhadores em Itaboraí, região que perdeu, desde 2014, mais de 16 mil empregos de carteira assinada, além de ver fechar uma rede de serviços como restaurantes e pousadas

por Gabriel Valery, da RBA publicado 07/12/2017 22h45


RICARDO STUCKERT
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Em Duque de Caxias: encontro com o povo no centro da cidade e depois a companhia do ex-ministro Celso Amorim
Nova Iguaçu – O dia mais movimentado da terceira etapa do projeto Caravana Lula pelo Brasil terminou na noite de hoje (7), na cidade de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Ao longo do dia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva percorreu cidades da Baixada Fluminense, além de visitar o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Foi justamente o Comperj o local escolhido para a primeira agenda do dia. Pela manhã, a caravana se despediu da bela cidade litorânea de Maricá rumo à Itaboraí, sede do complexo. Lula discursou em um carro de som em frente ao local, pois a Polícia Militar do estado impediu a realização do ato nas dependências do Comperj, o que causou espanto do ex-presidente, visto que estava acompanhado de autoridades de Estado, como o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Lula deu início à construção do Comperj em 2008 e a estrutura pensada demonstra a ambição do ex-presidente para o desenvolvimento da Petrobras e da região. Apesar de ser autossuficiente em petróleo, o Brasil não possui capacidade de processamento suficiente para todo o país, tendo que exportar petróleo e comprar seus derivados como gás butano, gasolina e diesel. O Comperj viria para sanar essa deficiência e dar início a um novo momento do país enquanto potência do setor.
Entretanto, a realidade foi diferente. A capacidade de processamento imaginada, de 165 mil barris de petróleo ao dia, nunca chegou a ser obtida. As obras nunca chegaram a ser concluídas por obstáculos envolvendo corrupção, como os investigados pela Operação Lava Jato, criticada por sua ação parcial e política. "Vim aqui para tirar uma fotografia para registrar a irresponsabilidade da paralisação de uma obra que poderia ser uma parte da salvação do estado do Rio de Janeiro", disse o ex-presidente.
Lula criticou as obras paradas, mas sem deixar de lado a crítica da corrupção. Ele argumentou que, enquanto executivos de empreiteiras assinaram acordos de delações premiadas e saíram com amplos benefícios dos escândalos recentes, o atual governo federal engessou as obras, afetando amplamente a população. De acordo com o Ministério do Trabalho, a região de Itaboraí perdeu, desde 2014, mais de 16 mil empregos de carteira assinada, além de ver fechar uma rede de serviços como restaurantes e pousadas.
"Não podemos ter uma obra dessa magnitude parada por irresponsabilidade. Eu não sou carioca, mas é importante que saibam que não há solução para o estado se o governo federal não estiver junto do Rio de Janeiro para fazer as obras necessárias para a recuperação da economia. Em 2006, assumi o compromisso de passar para a história que mais iria investir no estado, porque o Rio é a cara do Brasil e não poderia aparecer na imprensa apenas nas páginas policiais", disse.
Lula ainda disse que sua visita contrariou a opinião de seu partido, porque "não havia nada nem ninguém no Comperj". A expectativa foi equivocada, pois ele foi esperado no local por sindicalistas, especialmente da Frente Única dos Petroleiros (FUP), que marcou presença, inclusive, com seu coordenador, José Maria Rangel. Militantes também temiam a aproximação do ex-presidente com as polêmicas que envolvem o local. Recentemente, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, foi preso por fraudes em contratos de terraplanagem no Comperj pela Lava Jato.
Rangel também falou aos presentes sobre o abandono do Comperj. "O Rio de Janeiro passa pela maior crise de todos os tempos. E dizemos que a recuperação do estado passa necessariamente pela indústria de óleo e gás, que a Operação Lava Jato, de maneira deliberada, destruiu. Cada vez fica mais claro o objetivo deles de entregar o nosso petróleo para o capital internacional."
"A Lava Jato destruiu nossas construtoras, gerou desemprego da ordem de milhões de pessoas, além de queda no PIB. O Comperj saiu do seio do pensamento de um estado soberano. O Comperj não era para ser apenas um complexo petroquímico, ele tem refinarias para gerar emprego e renda em uma região tão carente como Itaboraí e São Gonçalo. Esse pensamento é perene em países desenvolvidos e aqui não poderia ser diferente. Então nós, homens e mulheres de bem temos que contrapor a essa política entreguista que está acabando com a Petrobras. Uma política que visa a entregar nosso petróleo para empresas estrangeiras, o que resulta em reajustes diários no preço do combustível e do gás", completou Rangel.
Também participou do ato a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que reafirmou as falas de Lula e Rangel. "Não vamos ter medo de enfrentar esse povo para o bem dos trabalhadores e para o funcionamento do Comperj que deixou de trazer a esperança que todos precisávamos. Por isso estamos aqui para que Lula volte e tenhamos emprego, trabalho e felicidade. Principalmente nós, a mulherada e a negrada", disse a parlamentar.
Baixada Fluminense
Finalmente, após a visita ao Comperj e as avaliações sobre a paralisação das obras no local, a caravana seguiu para a Baixada Fluminense. A primeira cidade visitada foi uma parada espontânea em Magé, aonde pessoas esperavam a passagem da caravana em um posto de gasolina na estrada. Lá, Lula abraçou e agradeceu os presentes com um breve discurso. 
De lá, a próxima parada foi em Duque de Caxias, aonde uma estrutura maior esperava o presidente na região central da cidade. Quem também se somou à caravana foi o ex-ministro do Itamaraty Celso Amorim, que foi apresentado por Lula como "o maior ministro das relações exteriores do mundo", em seu tempo.
"Não tinha um país do mundo que não respeitava o Celso. Dos Estados Unidos à China. Dá Rússia à Argentina. Venezuela a Cuba. Todos tinham a noção de que ele foi o maior ministro da pasta enquanto eu fui presidente. O Celso, durante muito tempo, quis se filiar ao PT, mas eu nunca deixei porque ele me ajudava mais sem ser do meu partido. Depois disso ele se filiou ao PT e se preparem para surpresas desse homem que é motivo de orgulho para cada brasileiro", completou Lula.
Amorim disse que "a presença de Lula é simbólica pelo povo que está presente com a cor do povo, não apenas da elite, do povo que Lula fez muito por ele, inclusive com a aproximação com a África. Mas digo que, queremos democracia, justiça social, a melhora do povo brasileiro e isso não vai acontecer sem a reafirmação da soberania brasileira. Precisamos vencer os grandes interesses do capital internacional", disse.
Por fim, Lula encerrou o dia em Nova Iguaçu, aonde passa a noite para seguir com a caravana. Amanhã, o presidente visita o campus da Universidade Federal Rural Fluminense e segue para a capital do estado, aonde encerra oficialmente a caravana com um ato na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com previsão de início às 20h.

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